19 de agosto de 2011

Vocação

Seja para constituir família, viver exclusivamente para Deus ou para doar a vida por uma missão, todos os cristãos possuem uma vocação. Ela é o chamado do Pai, cuja finalidade é a realização plena da pessoa humana. É um gesto gracioso do Senhor que visa a plena humanização do homem. É dom, graça, eleição cuidadosa, visando a construção do Reino dos Céus. Para compreendermos em profundidade o significado dessa iniciativa divina, precisamos fazer a distinção entre: Vocação Fundamental e Vocação Específica.
  • Vocação Fundamental: Entendemos por vocação fundamental o chamado de cada pessoa à vida, a ser Filho de Deus, a ser cristão, a ser Igreja. É um chamado a desenvolvermos plenamente todas as nossas potencialidades. As vocações específicas derivam da vocação fundamental.
  • Vocação Específica: Entendemos por vocação específica a maneira própria de como cada pessoa realiza a sua vocação fundamental, como leigo, sacerdote ou religioso. As vocações específicas são três: laical, religiosa e sacerdotal.
Vocação Laical
O carisma da vocação laical ocupa um lugar central na Igreja, pois a define para o mundo. Outras vocações não têm essa centralidade. O leigo tem carisma e função para libertar a secularidade do mundo, mediante o anúncio de Jesus Cristo, de modo a fazer com que o mundo tenha autonomia. Ele tem a missão de fazer com que o mundo entre em comunhão com o mistério que a Igreja representa.
A vocação laical tem sua origem nos sacramentos do batismo e da crisma. O cristão leigo tem o papel de libertar o mundo da secularidade, dos falsos ídolos e de todas as prisões que oprimem e destroem a pessoa humana. Vivendo no mundo como solteiro, casado ou consagrado (de maneira individual ou num instinto secular), os leigos são fermento na massa, sal e luz do mundo. Na vocação laical temos o estado de vida matrimonial. Chamados a ser pai, a ser mãe, a gerar vida, a constituir família. A família é chamada a constituir a Igreja doméstica.

 Vocação Religiosa

O carisma da vida religiosa está orientado também para o mundo. Demonstra o contraste, não é fuga, mas compromisso. A vocação religiosa é assumida por homens e mulheres que foram chamados a testemunhar Jesus Cristo de uma maneira radical. É a entrega da própria vida a Deus. Essa vocação existe desde o início do Cristianismo: vida eremítica, monástica e religiosa. Nesses dois mil anos de história surgiram inúmeras ordens, congregações, institutos seculares e sociedades de vida apostólica.
Os religiosos vivem:
a) Como testemunhas radicais de Jesus Cristo;
b) Como sinais visíveis de Cristo libertador;
c) A total disponibilidade a Deus, à Igreja e aos irmãos e irmãs;
d) A total partilha dos bens;
e) O amor sem exclusividades;
f) A consagração a um carisma específico;
g) Numa comunidade fraterna;
h) A dimensão profética no meio da sociedade;
i) Assumem uma missão específica;

Vocação Sacerdotal

O sacerdócio fundamental é comum a todo cristão leigo. Cristo fez do novo povo um reino de Ssacerdotes para Deus Pai (cf. Ap 1,6). Pelo Batismo todos participam da dimensão sacerdotal de Cristo (LG 27). O sacerdócio ministerial, pelo poder conferido, forma e rege o povo sacerdotal, realiza o Sacrifício Eucarístico na pessoa de Cristo e O oferece a Deus em nome de todo o povo (LG 28).
O ministério ordenado (carisma próprio do diácono, presbítero e bispo) é uma vocação carismática particular. O Espírito Santo – concede esta vocação a alguém e esta vocação converte-se em função. Um carisma que se converte em ministério. Ratifica-se após a imposição das mãos do bispo.
O presbítero é chamado a assumir o ministério hierárquico na Igreja como serviço aos irmãos. Esse ministério surgiu na geração apostólica quando os apóstolos se preocuparam pela continuidade das comunidades. Assim como não poderia existir comunidade primitiva sem apóstolo, da mesma forma não pode existir comunidade cristã sem sacerdote.

Características de uma Vocação

Catequista
A  Igreja reconhece no catequistas pessoas chamadas a exercitar um particular encargo eclesial, uma especial participação na responsabilidade de fazer avançar o Evangelho. Na história da evangelização muitos foram, de fato, mestres de religião, guias das suas comunidades, zelosos missionários leigos e modelos de fé.  Os catequistas prestam muitos serviços relacionados com a difusão do conhecimento de Cristo, com a fundação da Igreja, com o enxerto cada vez mais profundo do poder transformador do Evangelho na vida dos seus irmãos e irmãs. A catequese é trabalho de fé que ultrapassa qualquer técnica; é esforço da Igreja de Cristo. O seu objeto primário e essencial é o mistério de Cristo; a sua finalidade definitiva é colocar as pessoas em comunhão com Cristo (cfr. Catechesi tradendae, 5).  Apesar das  circunstâncias, das exigências e dos obstáculos, a importância deste grande apostolado não fica diminuída, porque sempre será necessário desenvolver uma fé inicial e guiar o povo para a plenitude da vida cristã.
Diaconato
Enquanto grau da ordem sagrada, o diaconado imprime o carácter e comunica uma graça sacramental específica.  Quanto aos diáconos, a graça sacramental dá-lhes a força necessária para servir o Povo de Deus na diaconia da Liturgia, da Palavra e da caridade, em comunhão com o Bispo e o seu presbitério. No exercício do seu poder, os diáconos, participando num grau inferior do ministério eclesiástico, dependem necessariamente dos Bispos, que têm a plenitude do sacramento da ordem. Além disso, têm uma relação especial com os presbíteros, em comunhão com os quais são chamados a servir o Povo de Deus. Do ponto de vista disciplinar, com a ordenação diaconal, o diácono é incardinado na Igreja particular ou na Prelatura pessoal para cujo serviço foi admitido, ou então, como clérigo, num Instituto religioso de vida consagrada ou numa Sociedade clerical de vida apostólica. O instituto da incardinação não constitui um facto mais ou menos acidental, mas caracteriza-se como laço constante de serviço a uma concreta porção de povo de Deus. Isto implica pertença eclesial a nível jurídico, afectivo e espiritual e a obrigação do serviço ministerial.
O ministério do diácono nos diversos contextos pastorais e caracteriza-se pelo exercício dos três munera próprios do ministério ordenado, segundo a perspectiva específica da diaconia. Relativamente ao munus docendi, o diácono é chamado a proclamar a Escritura e a instruir e exortar o povo. Isso é expresso mediante a entrega do livro dos Evangelhos, previsto pelo mesmo rito da ordenação. O munus santificandi do diácono exerce-se na oração, na administração solene do baptismo, na conservação e distribuição da Eucaristia, na assistência e bênção do matrimónio, na presidência ao rito do funeral e da sepultura e na administração dos sacramentais.(16) Isto mostra claramente que o ministério diaconal tem o seu ponto de partida e de chegada na Eucaristia e que não pode reduzir-se a um simples serviço social. Finalmente, o munus regendi exerce-se na dedicação às obras de caridade e de assistência (17) e na animação de comunidades ou sectores da vida eclesial, dum modo especial no que toca à caridade. É este o ministério mais típico do diácono. As características da ministerialidade nata do diaconado são, portanto, bem definidas, como se deduz da antiga praxe diaconal e das orientações conciliares.
Vida Consagrada
Todos, na Igreja, são consagrados no Baptismo e na Confirmação, mas o ministério ordenado e a vida consagrada supõem, cada qual, uma distinta vocação e uma forma específica de consagração, com vista a uma missão peculiar. Para a missão dos leigos  é fundamento adequado a consagração baptismal e crismal, comum a todos os membros do Povo de Deus. Os ministros ordenados, além dessa consagração fundamental, recebem também a da Ordenação, para continuar no tempo o ministério apostólico. As pessoas consagradas , que abraçam os conselhos evangélicos, recebem uma nova e especial consagração que, apesar de não ser sacramental, as compromete a assumirem — no celibato, na pobreza e na obediência — a forma de vida praticada pessoalmente por Jesus, e por Ele proposta aos discípulos.
O dever missionário das pessoas consagradas tem a ver primeiro com elas próprias, e cumprem-no abrindo o seu coração à ação do Espírito de Cristo. O seu testemunho ajuda a Igreja inteira a lembrar-se de que em primeiro lugar está o serviço gratuito de Deus, tornado possível pela graça de Cristo. As pessoas consagradas serão missionárias, antes de mais, aprofundando continuamente a consciência de terem sido chamadas e escolhidas por Deus, para quem devem,  orientar toda a sua vida e oferecer tudo o que são e possuem, libertando-se dos obstáculos que poderiam retardar a resposta total de amor. Desta forma, poderão tornar-se um verdadeiro sinal de Cristo no mundo. Também o seu estilo de vida deve fazer transparecer o ideal que professam, propondo-se como sinal vivo de Deus e como persuasiva pregação, ainda que muitas vezes silenciosa, do Evangelho.
Sacerdócio
O celibato é um dom que Cristo oferece a quantos são chamados ao sacerdócio. Este dom deve ser acolhido com amor, alegria e gratidão. O celibato, antes de ser uma disposição canónica, é um dom de Deus à sua Igreja, é uma questão ligada à dedicação total ao Senhor.  A virgindade consagrada dos sacerdotes manifesta, de fato, o amor virginal de Cristo pela sua Igreja e a fecundidade virginal e sobrenatural desta união”. Assim, dedicando-se totalmente às coisas de Cristo e do seu Corpo Místico, o sacerdote goza de uma ampla liberdade espiritual para estar ao serviço amoroso e total de todos os homens, sem distinção.  Formar-se para o sacerdócio significa habituar-se a dar uma resposta pessoal à questão fundamental de Cristo: “Tu amas-me?”. A resposta, para o futuro sacerdote, não pode ser senão o dom total da sua própria vida”. A vida sacerdotal é, no fundo, aquela forma de existência que seria inconcebível se Cristo não existisse. Precisamente nisto consiste a força do Seu testemunho: a virgindade pelo Reino de Deus é um dado real, existe, porque Cristo, que a torna possível, existe.
Matrimônio
O matrimônio e a família estão arraigados no âmago mais íntimo da verdade sobre o homem e sobre o seu destino. Por conseguinte, a diferença sexual que conota o corpo do homem e da mulher não é um simples dado biológico, mas reveste um significado muito mais profundo: exprime a forma de amor com que o homem e a mulher, tornando-se como diz a Sagrada Escritura uma só carne, podem realizar uma autêntica comunhão de pessoas, aberta à transmissão da vida e desta forma cooperam com Deus para a geração de novos seres humanos.  O matrimonio baseado num amor exclusivo e definitivo torna-se o ícone do relacionamento de Deus com o seu povo e, vice-versa, o modo de Deus amar torna-se a medida do amor humano”
O sacramento do Matrimônio tem um grande valor para toda a comunidade cristã e, em primeiro lugar, para os esposos, cuja decisão é tal que não poderia ser sujeita à improvisação ou a escolhas apressadas. A preparação para o matrimonio, para a vida conjugal e familiar, é de importância relevante para o bem da Igreja.   Tal vocação, para ser amadurecida, requer uma preparação adequada e especial, e é um caminho específico de fé e de amor, tanto mais que esta vocação é dada ao casal para o bem da Igreja e da sociedade.  O que aqui se chama Preparação compreende um amplo e exigente processo de educação para a vida conjugal, a qual deve ser considerada no conjunto dos seus valores. De fato, é educar para o respeito e a proteção da vida, que no Santuário das famílias se deve tornar uma verdadeira e própria cultura da vida humana em todas as suas manifestações e estados para aqueles que fazem parte do povo da vida e para a vida (cf. EV 6, 78, 105).
Profissionais
O cristão sabe que o trabalho faz parte do quotidiano, caminho de purificação e de salvação, para todos os que o acolhem em espírito de obediência à vontade de Deus e de serviço humilde e paciente para com o próximo.  Da visão cristã do trabalho deriva o empenho constante a privilegiar em todas as circunstâncias o bem da pessoa e a sua plena promoção espiritual, cultural e social.  Deste modo, no hospital, é o doente que deve ser posto no centro de qualquer serviço médico, de enfermagem e administrativo; na escola e na Universidade, é o estudante que deve ser ajudado, mediante o ensino e a instrução; nas fábricas e nos escritórios de empresas públicas e particulares, nas atividades comerciais e empresariais, é a consecução de uma melhor qualidade de vida, e não o simples aumento dos bens e dos lucros, no exercício das livres profissões, nas funções administrativas e no terciário são a honestidade, a competência e a qualidade dos serviços que devem ser privilegiadas ao satisfazer as demandas das pessoas; na comunicação, valor primário é o serviço à verdade, à qual é preciso ater-se com constante fidelidade; no exercício da justiça, é o direito de cada pessoa e o respeito pela legalidade que devem guiar magistrados e advogados; no desporto e no campo do turismo e do acolhimento, é o crescimento da pessoa humana que deve ser promovido, em todas as suas potencialidades e exigências físicas e espirituais.  A qualidade do ambiente depende antes de tudo das pessoas. Efetivamente, é o seu compromisso que pode torná-lo um lugar vital de colaboração, de comunhão e de relações caracterizadas pelo respeito e a estima recíprocos, pela colaboração e a solidariedade, pelo testemunho coerente com os valores morais da própria profissão.

Mês das Vocações

O mês de agosto é dedicado à reflexão sobre as vocações em geral. Normalmente a própria liturgia da Palavra de cada dia, em especial a dos domingos, dá o tema principal da reflexão e meditação trazida para alimento do povo de Deus. É costume, neste mês, comemorarmos as diversas vocações a cada semana:
  • Primeiro domingo: é o dia das vocações sacerdotais. Atualmente também se comemora o dia das vocações diaconais, ou melhor dizendo: dia das vocações aos ministérios ordenados. Essa comemoração se deve ao fato de no dia 4 de agosto celebrarmos o dia de São João Maria Vianney, o Cura D’Ars, patrono dos padres; e, no dia 10 de agosto, o dia de São Lourenço, patrono dos diáconos.
  • Segundo domingo: por imitação do segundo domingo de maio – no qual é comemorado o Dia das Mães – temos o Dia dos Pais. Sabemos que no Brasil esse dia é comemorado porque antigamente no dia 16 de agosto celebrava-se o dia de São Joaquim, pai de Nossa Senhora e, por isso, adotou-se esse dia e depois o domingo para essa comemoração. Devido a esse fato, nesta data é comemorada a vocação matrimonial.
  • Terceiro domingo: recorda-se a vocação à vida consagrada: religiosos, religiosas, consagradas e consagrados nos vários institutos e comunidades de vida apostólica e também nas novas comunidades. Essa recordação é feita porque no dia 15 de agosto celebramos o Dia da Assunção de Maria aos céus, solenidade que aqui no Brasil é transferida para o domingo seguinte.
  • Quarto domingo: é nesta data que se comemora o Dia do Catequista, daí a comemoração do dia da vocação do cristão leigo na Igreja, tanto na sua presença na Igreja como também em seu testemunho nos vários ambientes de trabalho e vida. O dia do cristão leigo voltará a ser comemorado no último domingo do ano litúrgico, domingo de Cristo Rei.
Ao participarmos dessas celebrações não podemos nos esquecer da vocação primeira e mais importante de todas: a vocação à vida cristã e, consequentemente, à santidade! Todos somos vocacionados à santidade e fora desse caminho não temos como viver bem qualquer que seja a nossa vocação pessoal.

Vocação e missão. É tudo igual?

Em latim, vocação significa “chamar”. Sendo assim, Deus chama a mim, a você, ao nosso grupo, nos convidando ao serviço, à doação, à entrega. Nesse chamado, o que Ele mais quer é que nós estejamos junto d’Ele, de Seu Filho Jesus e do Espírito Santo, participando do amor dessa Família do céu e da nossa comunidade. O Todo-poderoso nos chama, mas nos dá também os carismas e as qualidades de que precisamos para assumir esse chamado.
A palavra missão também vem do latim e significa “enviar”. É Jesus quem nos envia, como Ele mesmo falou: “Vão e façam meus discípulos todos os povos, ensinando a respeitar tudo o que vos ensinei” (cf. Mt 28,19-20). Não existe chamado sem missão, como também não existe missão se não houver quem possa realizá-la. Explicando melhor: a vocação, como vimos, é um chamado de Deus para servirmos a todos os irmãos. Esse serviço é a missão. Podemos concluir que vocação e missão não são a mesma coisa, mas elas estão muito ligadas, sendo consequência uma da outra.
Fonte cancaonova.com

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