24 de agosto de 2011

Quer peito e coxa? Compra um chester, amigo.

Definição e Consequências das Representações Femininas Sexualizadas
Traduzido por Andrea Patrícia

O que significa dizer que a mídia objetifica as mulheres– e o que significa este assunto? Aqui está um estudo para iniciantes sobre objetificação na mídia e o que significa.

A Definição de Objetificação da Mídia
A mídia que objetifica as mulheres, retrata as mulheres como objetos físicos que podem ser analisados e sobre os quais se pode agir — e falha em retratar as mulheres como pessoas com pensamentos, histórias e emoções. Na realidade, os seres humanos são os ao mesmo tempo objetos e temas, enquanto físicos são coleções de moléculas bem como indivíduos. Objetificar alguém, então, é reduzir alguém exclusivamente para ao nível de objeto.
A objetificação é um problema?
De certa forma, a objetificação não é necessariamente um problema. Seres humanos gostam de olhar para outros como seres físicos, e indivíduos algumas vezes optam por apresentarem-se aos outros primeiramente como objetos através do seu vestuário ou comportamento. Objetivar se torna um problema quando é freqüente, e quando as pessoas são geralmente apresentadas apenas como objeto e não como temas também.
As mulheres são freqüentemente objetificadas na mídia. Os homens são por vezes objetificados também – e isso não é bom– mas a objetificação das mulheres é muito mais comum. Quando vemos uma imagem de uma mulher que é apresentada passivamente, e que não demonstra nenhum atributo fora o físico ou sexual, isso é objetificação. Eis alguns exemplos contemporâneos de mulheres que são geralmente (embora nem sempre) apresentadas como objetos passivos para serem apreciadas exclusivamente como seres físicos:
• Modelos femininos Deal or No Deal(1), cuja função no programa é parecer bonita e manter uma atitude passiva até o momento em que o apresentador lhes permita “abrir a maleta”.
• Imagens sexualizadas de mulheres em vídeos musicais
• Pôster de modelos sexualizadas (Pinup)
• Universitárias no vídeo Girls Gone Wild
• As mulheres na pornografia
• Garçonetes no Hooters (2)
Mulheres “Reais” versus Imagens
Mas como as mulheres podem ser objetificadas, algumas pessoas alegam, se elas voluntariamente retratam a si mesmas de forma sexualizada? As mulheres em Deal or No Deal não são obrigadas a nada, afinal de contas, e tampouco as garçonetes do Hooters.
Isso é verdade– pelo menos na maioria dos casos (como há muitos casos documentados de mulheres que são forçadas à pornografia ou no vídeo Girls Gone Wild). No entanto, a questão da objetificação não é apenas sobre as decisões individuais das mulheres. É sobre o tipo de impacto destarepresentação na sociedade. Ou seja, uma mulher pode escolher ser modelo da Playboy – mas uma vez que sua imagem esteja na revista, a questão não é mais sobre a sua escolha apenas. É sobre como esta representação de mulheres afeta o mundo. Colocando a questão de outra forma, uma mulher pode escolher ser modelo da Playboy –mas todas as mulheres coletivamente optaram por não serem representadas desta forma.
Consequências da Objetificação
As conseqüências do objetificação não são fáceis de medir. Não há forma de associar comportamentos perigosos como os distúrbios alimentares ou crimes como estupro diretamente a objetificação nos meios de comunicação — e seria algo irresponsável e inexato a se fazer. No entanto, vivemos num mundo repleto de objetificação das mulheres, e esta objetificação contribui para problemas sociais.
• Estes problemas incluem: a violência sexual e outros tipos de violência contra mulheres. Quando as mulheres são apresentadas como objetos sem subjetividade, pode ser mais fácil para alguns justificar a violência contra elas. Se uma mulher é apenas uma coisa a ser analisada, seus sentimentos e preocupações podem parecer menos importantes.
• Transtornos de auto-imagem negativa. A enorme pressão que as jovens meninas e mulheres sentem para viver uma imagem irreal é alimentada por imagens que sugerem a importância de ser um belo objeto.
• Retrocesso. Teóricas como Jean Kilbourne* e Susana Faludi** argumentaram que o afluxo de imagens de mulheres objetificadas ocorreram ao mesmo tempo em que as mulheres ganharam outros tipos de poder na sociedade, servindo como um retrocesso para impedir as mulheres de se tornarem demasiado poderosas.(3)
• Pressão sobre adolescentes e mulheres jovens para se vestir e comportar mais sexualmente.
Em conclusão, imagine uma mesa. Uma mesa é uma coleção de moléculas– verdadeiramente um objeto. Não importa se você olha e compara-a negativamente com outras mesas, pega nela, ou até mesmo a danifica. Uma mulher, no entanto, é um objeto um sujeito. Do mesmo jeito que a mesa ela é um conjunto de moléculas que podem ser olhadas ou danificadas – mas diferentemente da mesa, ela importa. Quando a sociedade reduz seres humanos ao status de mesas, os humanos estão a ponto de serem feridos.
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Fontes:
* Jean Kilbourne, Can’t Buy My Love: How Advertising Changes the Way We Think and Feel, Free Press, 2000.
** Susan Faludi, Backlash; The Undeclared War Against Women, Three Rivers Press (15th anniversary edition), 2006.
Notas da tradutora:
(1) Programa de televisão que possui no Brasil o nome de “Topa ou não Topa”, apresentado pelo SBT.
(2) Restaurante dos E.U.A. onde as garçonetes são moças bonitas e que usam roupas mínimas.
(3) Creio que estas teóricas erraram o alvo. A mulher muito poderosa que é louvada pela mídia, é de certa forma o outro lado da moeda da mulher objeto. É a mulher que nega o seu papel de mãe e esposa para viver somente o de profissional bem sucedida. Não que não seja possível ser bem sucedida em uma profissão ao mesmo tempo em que se cria bem os filhos, mas isso não é o comum (muito pelo contrário!), e a experiência mostra que é muito difícil e desgastante, ao menos da forma como as mulheres profissionais são cobradas hoje. Essa “mulher poderosa” muitas vezes tem que optar entre família e carreira, porque a profissão cobra tanto que se torna impossível viver bem as duas coisas ao mesmo tempo.

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