31 de agosto de 2011

DOIS GRITOS


Expulsão do Jardim do Éden – Masaccio
Capela Brancacci – Igreja de Santa Maria
do Carmo – Florença (1426-27) técnica
em afresco (208 x 88 cm) – Pormenor.
Trazemos neste artigo imagens e textos que retratam a desobediência do homem a Deus e a sua consequente expulsão do Paraíso, e a misericórdia do Criador que envia o seu Filho único para salvar o homem, objeto da sua predileção, da escravidão a qual estava destinado.

Após o esplendor da primeira criação, quando Deus viu que tudo era belo, bom, verdadeiro e justo. O homem viveu a experiência de usar o livre arbítrio para optar por ele, pela criatura ao invés do criador, por querer ter o acesso por si mesmo à arvore do conhecimento do bem e do mal e saber tudo para não errar nada e não precisar de ninguém, para se contemplar sem defeito, cheio de luz e assim, ter acesso à fonte do poder, à vida, à liberdade, à imortalidade....
No processo de curiosidade, de atração, sedução, fascínio e dominação, os valores se invertiam: o que era bom se tornou insípido e o mal, atraente. Na escolha final, a perda da inocência, da elegância (EL=Deus+GAN=veste+CIA=movimento), do entusiasmo (IN+THEOS+MO), do “movimentar-se dentro de Deus”, com sua veste da graça para peregrinar (PER+GRINAR), “dar a volta num eixo” diverso, em torno de si.

O fruto do uso da liberdade para si, que parecia tão atraente, revelou-se amargo, aterrador... Numa dor tão lancinante que suas entranhas gritaram, num eco de dois gritos que ensurdeceram a humanidade.
O primeiro, grito de dor pela perda da pedra preciosa da intimidade com Deus; grito do fruto do pecado das origens, soberba amarga e desobediência, que nos trouxe tanta feiúra e desorientação. Buscamos como cegos, às apalpadelas o Senhor; provamos frutos de dor, injustiça e de morte.



O segundo, grito da angústia do vazio existencial, da desordem, do caos interior: fruto do segundo pecado original: a perda do sentido do sagrado, da verdadeira vida. Não há mais o Absoluto, referencial, valores, ideais, família, estabilidade, Verdade.
O Grito – Edvard Munch – Galeria nacional – Oslo (1893) – técnica em óleo sobre tela, têmpera e pastel sobre cartão (91x73,5 cm)
O homem caótico experimenta uma solidão terrível em meio aos outros. Perdeu o entusiasmo (IN+THEOS+MO), o movimentar-se (aprofundar)-se dentro de Deus.
Quem me livrara deste corpo e deste grito auto-suicida da cultura de morte que sai de dentro de mim?




Nada temas, pobre vermezinho, sou Eu quem venho te salvar.
“Desperta, tu que dormes; levanta-te de entre os mortos e Cristo te iluminará. A ti que estás na prisão: ‘Saí’; e aos que jazem nas trevas: ‘Vinde para a luz’; e aos que dormem: ‘Despertai’.
Descida de Jesus ao inferno – Anastasis – Afresco na Igreja de San Salvatore em Chora - Istambul
Eu te ordeno: Desperta, tu que dormes, porque Eu não te criei para que permaneças cativo no reino dos mortos. Levanta-te de entre os mortos; Eu sou a vida dos mortos. Levanta-te, obra das minhas mãos; levanta-te, minha imagem e semelhança. Levanta-te, saiamos daqui; tu em Mim e Eu em ti, somos um só.
Levanta-te, vamos daqui. O inimigo expulsou-te da terra do paraíso; Eu, porém, já não te coloco no paraíso, mas no trono celeste. Foste afastado da árvore, símbolo da vida; mas Eu, que sou a vida, estou agora junto de ti. Ordenei aos querubins que te guardassem como servo; agora ordeno aos querubins que te adorem como a Deus, embora não sejas Deus. Está preparado o trono dos querubins, prontos os mensageiros, construído o tálamo, preparado o banquete, adornadas as moradas e os tabernáculos eternos, abertos os tesouros, preparado para ti desde toda a eternidade o reino dos Céus”. (De uma antiga homilia do sábado santo – século IV)”.


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por Cassiano Azevedo, Missionário Com. de Vida Shalom *
Comunidade Shalom

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