24 de agosto de 2011

Revistas adolescentes enviam para as meninas todas as respostas erradas


Por Sheila Gibbons
Traduzido por Andrea Patrícia
 
Um artigo do ponto de vista mundano sobre a vida das garotas adolescentes hoje e sua relação com as confusas revistas teenHá termos fortes.

As revistas para adolescentes dinamitam as meninas com estímulos para maximizar os seus aspectos “quentes” enquanto promovem o ideal de virginal. Estas mensagens confusas podem ser bem destrutivas e em parte responsáveis pelos números crescentes de adolescentes que preferem passar fome.

Se o cor-de-rosa e o laranja gritantes das revistas de circulação em massa não atingem você, as mensagens confusas de dentro delas vão atingir. Já existiu uma inundação de “conselhos” tão contraditórios e confusos de alta pressão dirigidos a meninas adolescentes que tenham servido menos aos seus interesses?
O ying e yang de ser simultaneamente irresistível e virginal enche página após página. Adolescentes impressionáveis (e pré-adolescentes) são serradas ao meio pelas mensagens confusas. Dicas sobre como parecer sexy e roubar sufocantes beijos de língua do galã beijador da escola são entremeados com advertências para impedir que assuntos sexuais fiquem fora de controle.
“Corredor do amasso: o que pode e o que não pode (YM) co-existe com confessionários constrangedores como “A fofoca arruinou minha vida” (Seventeen) na qual uma noite de beijos fez manchetes escandalosas no dia seguinte na escola. Estes artigos saíram nas edições de agosto e setembro, na volta às aulas [nos EUA].
Revistas adolescentes estão carregadas com anúncios e editoriais – e os dois são difíceis distinguir – pressionando as meninas a adquirir o último “corte de cabelo quente” (Seventeen) e os visuais “quentes” (Elle Girl), reforçados por comandos para “conquistar com flertes seu encontro” (Teen). Parece a mim que elevar o calor da pessoa é que põe uma menina no caminho para comentários tristes como “Uma noite de festa arruinou minha reputação” em (CosmoGirl) na qual uma estudante de faculdade recorda de quando acordou nua e querendo saber se ela tinha feito tido sexo. A fofoca do campus disse que ela fez.
As revistas colocam as vidas das meninas adolescentes como competições de popularidade infinitas (“301 modos de ser a menina mais legal da classe” na Teen e “432 modos para voltar para a escola como uma pessoa nova” em YM) nas quais a suposição é que a leitora invariavelmente tem defeitos que precisam ser corrigidos. A escola é o estágio principal para esforços de atingir a popularidade e agarrar um namorado (você não pode ser popular sem ter um namorado, parece), mas principalmente a escola é meramente isto: um ambiente para socializar. Estas revistas têm pouco para dizer às meninas sobre o valor da realização acadêmica, o compromisso cívico ou desafios de ordem intelectual. É justo dizer que o cérebro não é o órgão “quente” no centro do conteúdo das revistas adolescentes.
Corpo é a nova prioridade das meninas
Nem sempre foi assim. Joan Jacobs Brumberg, autora de “The Body Project: An Intimate History of American Girls”, diz: “O corpo tornou-se o projeto central pessoal das meninas americanas. Esta prioridade faz as meninas de hoje muito diferentes das suas homólogas da Era Vitoriana. Embora as meninas de ontem e de hoje apresentem muitas características comuns de desenvolvimento – tais como a auto-consciência, sensibilidade em relação aos colegas e um interesse em estabelecer uma identidade independente – antes do século 20, as meninas simplesmente não organizavam seu pensamento sobre si mesmas em torno de seus corpos. Hoje, muitas meninas se preocupam com os contornos do seu corpo – principalmente forma, tamanho e tônus muscular – porque acreditam que o corpo é a expressão máxima do eu. “Você precisa olhar mais longe do que os títulos de grande circulação teen (e as suas irmãs adultas) para a confirmação disto. E as conseqüências de ser uma leitora de revistas adolescentes não podem ser sempre felizes. “As revistas, e não a televisão, parecem ter maior relação com transtornos alimentares”, diz Rose M. Kundanis, autora de “Children, Teens, Families and Mass Media: The Millennial Generation”. “Os investigadores explicam que já que a televisão incentiva o consumo de alimentos ricos em gordura, o efeito em direção a distúrbios alimentares é minimizado. Por outro lado, as revistas oferecem mais instruções sobre dieta e, portanto, parecem ser mais significativamente correlacionadas com distúrbios alimentares”, diz ela. O impacto atinge cada vez mais meninas mais novas: a revista Teen neste outono relatou, sem comentários, que 35 por cento das meninas nos EUA entre os seis e doze anos de idade fizeram, pelo menos, uma dieta, e que entre as meninas de peso normal, entre 50 e 70 por cento consideram-se com excesso de peso.
Dicas de beleza triunfam sobre as informações de saúde
Informações de saúde relacionadas com a manutenção da beleza – pele, cabelo, unhas – abundam em meio a uma escassez de informações sobre outros problemas de saúde. A saúde sexual em particular, recebe pouca atenção. Um estudo de 2002 feito por Lawrence Erlbaum Associates, Inc., sobre adolescentes e revistas femininas publicadas entre 1986 e 1996, intitulado “Sexual Teens, Sexual Media: Investigating Media’s Influence on Adolescent Sexuality”, concluiu que “cada vez mais provável que as leitoras tenham aprendido que elas precisam estar mais preocupadas com o sexo propriamente dito – por exemplo, “21 modos de deixar as coxas dele em chamas” ao invés de saúde sexual. “Revistas de Adolescentes”, o estudo continua, “têm aumentado a quantidade de espaço focada em questões sexuais não-saudáveis ainda mais, em termos percentuais, do que as revistas femininas, ao mesmo tempo, o espaço para a saúde sexual centrada cresceu só um pouco. “Este achado é preocupante, considerando-se a grande quantidade nas revistas teen de instrução sobre como obter encontros e desenvolver relacionamentos românticos, atividades vinculadas a levar à experimentação sexual.
Celebridades de Hollywood são apresentadas como modelos de referência contra a qual as leitoras podem calibrar seu próprio comportamento: “Quiz do Amor: Você é uma serial-dater como Britney ou uma uber-compromissada (1), como Reese?” (Seventeen); “O estilo do celeb você quer mais: Reese Witherspoon, Cameron Diaz, Salma Hayek e Heather Graham” (Elle Girl); “Imperfeita antes da fama? Segredos das Celebridades no Colégio” (Teen). Com raras exceções, as mulheres que se destacaram fora do campo do entretenimento não são apresentadas como mulheres para imitar (ou se parecer) nem chegam perto da freqüência com que aparecem os atores e cantores. A fórmula da revista teen está tão arraigada na cultura adolescente que a editora da Bíblia de Nashville, Thomas Nelson, Inc., está anunciando uma versão do Novo Testamento chamada “Revolver” muito bem embalada como uma revista teen. Suas linhas de cobertura incluem “Você está namorando um cara de Deus?” “Segredos de beleza que você nunca ouviu antes” e “Como se dar bem com sua mãe e outras notas sobre relacionamentos.” Embora não haja nenhum conselho sobre o beijo-francês no corredor entre as salas de aula, o design das colunas, a fotografia, os testes e colunas de aconselhamento são muito emprestados das revistas teen.
Razões reais para preocupar-se
Devemos preocupar com estes rosa e laranja, obsessão por rapazes, lábios com gloss, tratamento risonho da vida adolescente ou aceitá-los como um rito de passagem para as meninas adolescentes? Meenakshi Gigi Durham, da Universidade de Iowa, que realizou uma extensa pesquisa sobre a mídia teenem uso entre meninas do ensino médio, acha que devemos nos preocupar. “Todas as meninas com as quais eu falei manifestaram alguma insatisfação com seus corpos, e muitas delas recorreram a medidas extremas como a fome.” Durham também acha que as revistas estão perdendo a chance de ajudar as meninas a desenvolverem uma atitude saudável em relação ao sexo (2). “O que é apresentado como “sexy” é o umbigo à mostra, a loira de seios grandes. É como uma ficção. Qualquer pessoa de qualquer tipo de corpo e raça pode vivenciar sua sexualidade e se divertir, mas essas revistas não oferecem essa mensagem.” Adultos que conversam com as meninas com quem se preocupam, podem mediar as mensagens destrutivas de tais publicações. Mas não seria ótimo se essas revistas – dada a sua abundância de recursos – realmente mostrassem um senso de responsabilidade editorial em relação a suas leitoras jovens e sugestionáveis?
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A autora:
Sheila Gibbons é editora da Media Report to Women, um jornal trimestral de notícias, pesquisas e comentários sobre as mulheres e a mídia. Ela também é co-autora de “Taking Their Place: A Documentary History of Women and Journalism”, Strata Publishing, Inc., e “Exploring Mass Media for A Changing World”, Lawrence Erlbaum Associates, Publishers.
Notas da tradutora:
(1)   serial-dater: namoradora ou “ficadora” em série; uber-compromissada: ultra-compromissada.
(2)   A verdadeira atitude saudável em relação ao sexo é a espera pelo casamento para a consumação do ato sexual. “Dicas” de saúde sexual só poderiam ser realmente positivas se visassem que o sexo é sagrado e, portanto, é algo que deve acontecer dentro do matrimônio.

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