3 de setembro de 2011

A riqueza inesgotável da Liturgia das horas – um pouco da sua historia e orientações


Estimados em Cristo; Saudações!
Pax!
Falo hoje a vocês, da importância espiritual da Liturgia das Horas, aproveitando para dar-lhes algumas orientações.
Algumas pessoas imaginam erroneamente, que a Liturgia das Horas é uma oração rezada apenas por monges e sacerdotes. Por falta de esclarecimento, inclusive da nossa Santa Madre Igreja, o que lamento, este equivoco vem sendo cometido.
Em buscar de auxiliar na evangelização, em especial com enfoque á vida contemplativa leiga, considero importante que, cada um de nós após informados possamos beber abundantemente desta graça santificante, e fazer dela instrumento de intercessão poderosa junto ao Sacerdote Perfeito Nosso Senhor Jesus Cristo. A todos tantos quantos forem possibilitados esta graça, meu pedido humilde de difundi-la junto aos seus mais queridos e a comunidade a qual pertencem.

Para Maior Glória de Cristo. Amém!


Chama-se Liturgia das Horas, porque se trata de uma oração em momentos determinados ao longo do dia, para santificá-lo e consagrá-lo como realidade fundamental da nossa existência. Na sua alternância de luz e trevas, o dia nos dá a noção básica do tempo. Cada dia vivido é uma chance ímpar que não convém desperdiçar: ensinai-nos a contar nossos dias, para que tenhamos um coração sábio (Sl 90, 12).

"A Liturgia das Horas desenvolveu-se pouco a pouco, até se tornar a oração da Igreja local."(LC)
A Liturgia das Horas é uma oração e toda oração tem que sair de dentro, não como uma obrigação e sim como vocação. Antes de sermos obrigados à oração, a ela somos chamados.

A oração pode ser classificada como particular e comunitária. Sabemos que uma não anula a outra, pelo contrário, elas se complementam. O homem, todos sabem, é um ser social, e para realizar sua vocação ele o faz em companhia de outros seres humanos. A oração faz parte desta vocação. Uma vez que nossa vocação principal é AMAR A DEUS, faz parte da manifestação dessa vocação o manifestar esse amor a Deus. E o fazemos principalmente através da oração. Assim, realizando essa vocação de amar a Deus, rezamos individualmente e também comunitariamente.

O exemplo e preceito do Senhor e dos apóstolos de orar sempre e com insistência não devem ser considerados como regra meramente legal, mas derivam da essência íntima da própria Igreja, que é a comunidade e deve expressar seu caráter comunitário também ao orar. (IGLH 9)

A Importância da Liturgia das Horas na Vida da Igreja

A Introdução Geral à Liturgia das Horas (IGLH) em seu capítulo primeiro nos fala que uma das principais funções da Igreja é a oração pública e comum do povo de Deus. Nos primórdios, já os batizados "perseveravam no ensinamento dos apóstolos, na comunhão, na fração do pão e nas orações" (At 2,42). Várias vezes os Atos dos Apóstolos atestam que a comunidade cristã rezava em comum. (At 1, 14; 4,24; 12,5.12; Ef 5,19-21)


Celebradas em comum, foram pouco a pouco aperfeiçoadas e organizadas como o ciclo completo das horas. Enriquecida com leituras, essa Liturgia das Horas é antes de tudo oração de louvor e petição, e é oração da Igreja com Cristo e a Cristo. (IGLH 2)

A Liturgia das Horas é uma oração de Cristo, e é em Cristo que nos baseamos para orar. A atividade cotidiana de Jesus está muito ligada à oração. Mais ainda, como que brotava dela, retirando-se ao deserto e ao monte para orar, levantando-se muito cedo ou permanecendo até a quarta vigília e passando a noite em oração a Deus. (IGLH 4)

Também é a Liturgia das Horas um cumprimento da ordem de Cristo. "Orai, disse ele muitas vezes, rogai, pedi em meu nome." Deixou-nos também uma forma de rezar: a oração dominical. Ele nos inculcou a necessidade de oração e as qualidades necessárias: Humilde, vigilante, perseverante e confiante na bondade do Pai, pura de intenção e adequada à natureza de Deus.

E os apóstolos em suas cartas nos transmitiram muitas orações, sobretudo de louvor e ação de graças. Exortam-nos sobre a eficácia santificadora (1Tm 4,5; Tg 5,15s; 1Jo 3,22;5,14s) da oração no Espírito Santo (Rm 8, 15.26; 1Cor 12,3; Gl 4,6; Jd 20) por Cristo(2Cor 1,20; Cl 3,17) oferecida a Deus(Hb 13,15), como também sobre a oração de louvor(Ef 5,19s; Hb 13,15; Ap 19,5), ação de graças(Cl 3,17; Fl 4,6; 1Ts 5,17; 1Tm 2,1), petição(Rm 8,26; Fl 4,6) e intercessão em favor de todos(Rm 15,30; 1Tm 2,1s; Ef 6,18; 1Ts 5,25; Tg 5,14.16). (IGLH 5)

Consagração do Tempo


"É preciso orar em todo o tempo e nunca esmorecer" Lc 18,1
"Por meio dele (Jesus), ofereçamos continuamente a Deus o sacrifício de louvor" Hb 13,15
Esse preceito se cumpre não apenas pela celebração da Eucaristia mas também por diversos outros modos, entre os quais sobressai a Liturgia das Horas. Segundo antiga tradição cristã ela tem a característica entre as demais ações litúrgicas, de santificar todo o curso do dia e da noite. (IGLH 10) A santificação do dia e de toda a atividade humana é finalidade da Liturgia das Horas.

As Origens no Antigo Testamento

O ritmo da oração diária da Igreja, a Liturgia das Horas, tem suas origens na experiência religiosa do povo de Deus no Antigo Testamento.

O povo revivia a experiência pascal da libertação do Egito, da aliança com Deus aos pés do Monte Sinai e a herança da Terra Prometida, uma vez na Terra através da celebração anual, semanal e diária da Páscoa.
Duas vezes por dia, pela tarde e pela manhã, o piedoso israelita suspendia suas atividades, onde quer que estivesse, e elevava a Deus uma prece de ação de graças pelos benefícios recebidos.

O xemá vespertino – como era chamado o Louvor da tarde, era a ação de graças pelos benefícios de Deus em geral, e de modo particular pelas maravilhas operadas pelo Senhor na páscoa da libertação do Egito.
O xemá matutino – como era chamado o Louvor da manhã, tinha como conteúdo os benefícios da Aliança no Sinai e das alianças de Deus com seu povo. Recorda e renova a aliança de Deus pela Criação do mundo e do homem, que Deus renova todos os dias. O louvor matinal era sobretudo uma celebração diária da vida, da experiência pascal, despertada na experiência de um novo dia.

O homem do Antigo Testamento percebia o tempo diário como tarde e manhã (nesta ordem). Nesta experiência ele vivia um processo de passagem das trevas para aluz, da noite para o dia, da tarde para a manhã, do deitar-se para o levantar-se.

Jesus Cristo em sua vida acompanhava este ritmo de oração diária de seu povo, mas purificou-a nos ensinando a orar (Mt 6,5.7).

O conteúdo da oração cristã é novo. É reunir-se em nome de Jesus Cristo. É dar graças em sua memória. A ação de graças da Igreja deve ter como conteúdo a pessoa de Jesus Cristo.

A Liturgia das Horas na Igreja Nascente
A Igreja nascente tinha consciência de sua vocação de comunidade orante. Existem alguns horários privilegiados (at 10,9; 16,25) e vemos em vários documentos da comunidade nascente como na Didaqué <... assim orareis três vezes por dia> (Cap 8). E assim vários outros escritos do início da Igreja nos falam de horários para as orações. Porém no século IV se firmam duas tradições de oração comunitária da Igreja: O Ofício da Igreja Catedral e o Ofício Monástico.


Ofício da Igreja Catedral
Inspirado no contar do tempo dos judeus: experiência pascal diária pela tarde e pela manhã. Surgiu então o ofício diários dos louvores matinais, as LAUDES, e dos louvores vespertinos, as VÉSPERAS. Este era o ofício das Igrejas locais e participavam todo o povo: Bispo, presbíteros, diáconos, ministros, religiosos e leigos.

Ofício Monástico
Herdado da maneira romana de contar o tempo: as vigílias. Cada vigília correspondia a três horas.
Surge o ofício monástico para cumprir a exortação sobre a necessidade de orar sempre.

  1. Laudes 6:00h
    Terça 9:00h
    Sexta 12:00h
    Nona 15:00h
    Vésperas 18:00h
    I Noturno 21:00h
    II Noturno 24:00h
    III Noturno 3:00h

Mais tarde introduziu-se a Prima, ligada ao início dos trabalhos do dia, e as Completas como encerramento do dia.

Mais tarde com o declínio do uso do Ofício Catedral, a forma monástica das 10 horas espalhou-se por toda a Igreja, principalmente depois de São Francisco ter adotado e pedido aos seus franciscanos que o fizessem.

Quem Celebra a Liturgia das Horas

A celebração da Liturgia das Horas é além de um chamado, uma obrigação para todo o Clero e fiéis consagrados. Mas também toda a Igreja é chamada a celebra-la.

Para nós leigos é importante que saibamos que a Igreja nos pede:

Os grupos de leigos em qualquer lugar que se encontrem reunidos são convidados a cumprir esta função da Igreja celebrando parte da Liturgia das Horas, seja qual for o motivo pelo qual se reuniram: oração, apostolado ou qualquer outra razão. Convém que aprendam a adorar a Deus Pai em espírito e verdade, antes de tudo na ação litúrgica, e tenham presente que mediante o culto público e a oração, atingem toda a humanidade e podem fazer muito pela salvação de todo o mundo. (IGLH 27)
...recomenda-se que celebrem algumas partes da Liturgia das Horas, que é a oração da Igreja e que faz todos os que estão dispersos terem um só coração e uma só alma. (At 4, 32)
Então somos chamados a celebrar com toda a Igreja, mesmo que individualmente, a Liturgia das horas. Devemos notar que devemos fazer a hora mais próxima do momento em que estamos realmente rezando, i.e., se estamos rezando logo pela manhã devemos rezar as LAUDES e não as VÉSPERAS.

A Estrutura da Liturgia das Horas

O Invitatório
Não é propriamente uma hora, mas distingue-se da primeira hora do dia, à qual precede, como convite à oração.
O Ofício todo é introduzido normalmente pelo Invitatório, que consta do verso: ‘Abri os meus lábios, ó Senhor. E minha boca anunciará vosso louvor’, com o salmo 94. Com esse invitatório os fiéis são convidados cada dia a cantar os louvores de Deus e a escutar sua voz, e são incentivados a desejar o ‘descanso do Senhor’. (IGLH 34)

Laudes
A oração da manhã, o Louvor Matinal, as LAUDES, é o louvor da Igreja pelo mistério de Cristo, sobretudo o seu aspecto glorioso: a Ressurreição. Cada louvor matinal constitui uma pequena celebração da Ressurreição de Cristo e da nossa ressurreição com Ele.
As Laudes se destinam e se ordenam à santificação do período da manhã. Diz S. Basílio Magno ‘O Louvor da manhã tem por finalidade consagrar a Deus os primeiros movimentos de nossa alma e de nossa mente... o corpo não deve se entregar ao trabalho sem antes termos cumprido o que disse a Escritura: <É a vós que eu dirijo a minha prece; de manhã já me escutais! Desde cedo eu me preparo para vós, e permaneço à vossa espera.> Sl 5,4-5’ (IGLH 38)

Vésperas
Com as Laudes, as Vésperas está entre as Horas principais do dia.
As Vésperas são celebradas quando anoitece, e o dia já declina, para ‘agradecer o que nele temos recebido ou o bem que nele fizemos’. Relembramos também nossa redenção por meio da oração, que elevamos ‘como incenso na presença do Senhor’." Isto é, recordamos a instituição da Eucaristia e a Paixão e morte do Senhor e pede pela sua vinda gloriosa, assim como pedimos pela graça de um novo dia. ‘Pedimos que a luz venha de novo a nós, o qual nos trará a graça da luz eterna’ (IGLH 39)

Hora Média
O costume litúrgico, tanto no Oriente como no Ocidente, adotou a Oração das Nove(Terça), a Oração das Doze(Sexta) e Oração das Quinze Horas(Nona), sobretudo porque essas Horas se relacionavam com alguns acontecimentos da Paixão do Senhor. (IGLH 75)
Assim a Oração das Nove Horas está relacionada com o Mistério de Pentecostes e com a hora em que Cristo foi entregue à morte. A Oração das Doze Horas contempla o Cristo na Cruz e lembra a própria oração de Jesus suspenso entre o céu e a terra. A Oração das Quinze Horas é ligada à morte de Cristo na Cruz e do Cristo morto transpassado pela lança. Tem, portanto, algo em comum com as Vésperas.

Completas
A Oração da Noite é chamada de Completas, é de certo modo um complemento das Vésperas, realça os aspectos escatológicos e de encomendação da pessoa a Deus.
É a última do dia, e se reza antes do descanso, mesmo passada a meia noite. (IGLH 84)
Por realçar os aspectos escatológicos, i.e, por nos lembrar o fim de nossa vida e o fim dos tempos, por nos lembrar da morte e da vida eterna, é sem dúvida o ocaso do dia, como que fechando o ciclo para que avaliemos como foi o dia, como o vivemos, em que falhamos e em que acertamos.
É louvável a prática do Exame de Consciência nesta Hora (IGLH 86)
Ofício das Leituras
Originalmente tratava-se de uma vigília noturna ou na tradição monástica, de três momentos de oração durante a noite.
Hoje a Igreja não insiste mais no caráter noturno do Ofício das Leituras. Horas apropriadas para essa Oração são antes das Laudes ou após as Vésperas.
São feitas especialmente para apresentar, principalmente aos consagrados, subsídios para meditação substanciosa da Sagrada Escritura e as melhores páginas dos autores espirituais. (IGLH 56)

Os Elementos da Liturgia das Horas

Salmos
São poemas de louvor escritos pelos autores sagrados do Antigo Testamento, não são leituras nem orações em prosa; têm a virtude de elevar a Deus a mente das pessoas, agradecendo na prosperidade, ou consolando e dando fortaleza de ânimo na adversidade.
Quem salmodia não o faz em seu próprio nome, mas em nome da Igreja, mesmo quando é recitado individualmente. Quem salmodia em nome da Igreja poderá sempre encontrar motivos de alegria ou tristeza – ‘Alegrar-se com os que se alegram e chorar com os que choram’ Rm 12, 15.

Antífonas
Contribuem para a compreensão dos Salmos e ajudam a ilustrar seu gênero literário; fazem do salmo uma oração pessoal; acentuam algum pensamento especialmente digno de atenção.

Leituras Breves e Responsórios
As leituras foram selecionadas de modo que expressem um pensamento ou admoestação de maneira breve porém clara.
O Responsório responde à leitura breve como aclamação a fim de que a Palavra de Deus penetre mais intimamente no ânimo de quem a escuta ou lê.
Hinos e outros cantos não bíblicos
Por antiqüíssima tradição fazem parte do Ofício divino. Estão especificamente destinados ao louvor de Deus. Segundo a tradição, o hino termina em uma doxologia que, geralmente, se dirige à mesma Pessoa divina, a quem se dirige o hino todo.


Preces
A tradição judaico-cristã não separa do louvor divino a oração de petição.
As exortações de Paulo para que se façam súplicas, orações, pedidos, ações de graças, por todos os homens: pelos reis e por todos aqueles que têm autoridade, para que tenhamos vida calma e tranqüila, com toda a piedade e honestidade. Essas recomendações foram interpretadas pelos Padres no sentido de fazer intercessões pela manhã e pela tarde. (IGLH 179)

Nas Laudes e Vésperas, por serem as Horas mais freqüentadas pelo povo, após as preces segue a Oração do Senhor – o Pai-Nosso –, em razão de sua dignidade.
A Liturgia das Horas e a Eucaristia

Um dos aspectos mais importantes da Liturgia das Horas é a sua ligação íntima com a Páscoa do Senhor e conseqüentemente com a Eucaristia. Celebramos a todo momento a Liturgia das Horas com os olhos voltados para Cristo e portando para recebermos seu corpo e sangue.
Existe uma íntima ligação da Liturgia das Horas com o Mistério da Eucaristia. A celebração da Eucaristia é insuperavelmente preparada por meio da Liturgia das Horas. Nesta se despertam e se alimentam adequadamente as disposições necessárias para celebrar com proveito a Eucaristia. (IGLH 12)

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